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Vulnerabilidade Cognitiva: O Risco Real para a Tomada de Decisão

A vulnerabilidade cognitiva é fundamental na tomada de decisão e na qualidade das nossas escolhas.

“Há dois grandes males no mundo, a ignorância e a loucura. O segundo é consequência do primeiro.” — Platão

A vulnerabilidade cognitiva é algo que pode comprometer profundamente a qualidade das escolhas que fazemos, especialmente no contexto de líderes e empreendedores.

Neste artigo, vamos explorar o que é a vulnerabilidade cognitiva e como ela pode impactar suas decisões e, consequentemente, seus resultados.

O Caso de Rodion Raskolnikov: Quando a Razão Falha

Em Crime e Castigo (1866), de Dostoiévski, o protagonista Rodion Raskolnikov se convence, por meio de uma lógica tortuosa, de que cometer um assassinato é justificável. A frase que ele diz:

 “Quando a razão falha, o diabo ajuda”

A frase é muito boa para traduzir a ideia representada pelo termo vulnerabilidade cognitiva. O termo pertence ao campo psicológico da terapia cognitiva, que teve sua origem nos experimentos e observações clínicas de Aaron Beck, na década de 60. 

Pode ser definido como a predisposição para fazer construções cognitivas falhas ou, em outras palavras, a tendência de cometer distorções ao processar informações.

Essa falha cognitiva, embora não tão extrema quanto no caso de Raskolnikov, ocorre no dia a dia de todos nós. 

Quantas vezes você já se convenceu de que um erro isolado não vai fazer mal? Quantas vezes nos convencemos de que somente aquele chocolate, aquele dia fora da dieta ou sem exercícios, ou sem estudar, ou sem produzir… não vai fazer mal? 

Quantas vezes você comprou algo desnecessário, se endividando por impulso? Pode ter dado certo antes, mas não significa que será assim sempre. 

Essas distorções cognitivas podem parecer inofensivas, mas, com o tempo, elas afetam a qualidade das nossas decisões.

O Perigo das Distorções Cognitivas nas Decisões

É interessante observar que as distorções cognitivas podem seguir várias formas. Por exemplo, a tendência de acreditar que algo “sempre vai dar certo”, porque deu certo no passado, pode gerar decisões erradas — como no fatídico jogo de futebol entre Brasil e Alemanha na Copa de 2014. Por outro lado, distorções negativas como “tudo vai dar errado”, “ninguém presta” ou “eu não mereço”, podem gerar um ciclo de decisões paralisantes e autossabotagem.

A boa notícia é que, embora nossas percepções sejam influenciadas por nossas experiências de vida, história pessoal e até mesmo biologia, podemos aprender a identificá-las e a desafiá-las. 

Como líderes e empreendedores, é essencial estarmos cientes desses padrões, pois eles podem afetar profundamente a maneira como tomamos decisões que impactam nossos negócios e nossas equipes.

O problema é que depois de Dostoievsky e da psicologia cognitiva não dá pra fazer de conta que eu, você, meu vizinho, seu chefe… não somos capazes de distorcer a realidade em que vivemos em prol de um suposto conforto psicológico. 

E é importante destacar a palavra SUPOSTO, pois que o protagonista, seja na literatura ou na vida real, ao distorcer a realidade, toma decisões completamente equivocadas e caminha em direção contrária ao seu bem-estar. Basta pensar no 7 x 1 …

A Vulnerabilidade Cognitiva e as Decisões Empresariais

Em sua dissertação de mestrado, o advogado e pesquisador Felipe Moreira dos Santos Ferreira propôs uma análise interessante sobre a economia comportamental e a vulnerabilidade cognitiva, sugerindo que é necessário reformular o Código de Defesa do Consumidor no Brasil para lidar com essas distorções. 

No entanto, no contexto da liderança e do empreendedorismo, essa vulnerabilidade também precisa ser combatida para melhorar as tomadas de decisão, não só no mercado, mas também na gestão de equipes e nas estratégias de negócios.

Reflexão: Como líder ou empreendedor, você já se perguntou quantas vezes tomou decisões equivocadas devido a distorções cognitivas? Como você pode corrigir isso em sua abordagem diária?

A Importância da Razão: Como Estimular a Cognição

A razão, do latim ratio, refere-se à nossa capacidade de julgar, compreender e ponderar. É uma função cognitiva fundamental para a tomada de decisões equilibradas e assertivas. 

Como líderes, devemos buscar estimular, ensinar e exercitar essa capacidade. A razão é a chave para superar as distorções cognitivas, que podem nos levar a escolhas erradas.

Platão dizia que, se até os 60 anos você não se dedicou à Filosofia, então, é hora de começar. 

Para quem não quer filosofar de fato há várias possibilidades: ler, refletir, estudar, fazer mapas mentais, dialogar com quem pensa diferente (dialogar para compreender e não para convencer), treinar o cérebro com exercícios específicos, buscar clareza nos conceitos.

No mundo atual há opções para todas as inclinações, desde que se deixe a preguiça mental de lado e se tenha coragem de expor o próprio pensamento ao escrutínio da razão.

A razão em muito contribui para o equilíbrio, seja financeiro, emocional, etc. Quantas vezes, depois de uma briga, você não se pegou dizendo: “É, pensando bem…”. 

Por que não exercitar-se para pensar bem antes e evitar os desequilíbrios? 

Dica prática: Reserve um tempo diário para refletir sobre suas decisões e ações. Pergunte-se: “Estou agindo com base em dados reais ou em distorções da minha mente?”

Como Superar a Vulnerabilidade Cognitiva e Tomar Decisões Mais Assertivas

A prática de atividades mentais pode ser uma excelente maneira de fortalecer sua cognição e reduzir a vulnerabilidade cognitiva. 

Assim como a prática de exercícios físicos melhora a saúde do corpo, o exercício mental pode melhorar a saúde do cérebro e a qualidade das nossas decisões.

Algumas atividades recomendadas incluem:

  • Leitura e estudos contínuos: Mantenha-se atualizado e desafie suas crenças pré-existentes.
  • Reflexão e autocrítica: Pergunte-se constantemente se suas decisões estão sendo influenciadas por distorções cognitivas.
  • Treinamentos cognitivos: Pratique exercícios mentais que ajudem a melhorar sua memória, concentração e raciocínio lógico.

Quando você começa a praticar esses exercícios, a tendência é que as distorções cognitivas diminuam, resultando em decisões mais precisas e assertivas — seja no ambiente pessoal, financeiro ou profissional.

Benefícios: Decisões Mais Eficazes e o Sucesso Pessoal e Profissional

A redução da vulnerabilidade cognitiva traz benefícios reais para líderes e empreendedores, pois ela contribui para a tomada de decisões mais assertivas. 

Ao fortalecer a razão e a cognição, podemos tomar decisões mais embasadas e alinhadas com nossos objetivos, potencializando as chances de sucesso em qualquer área da vida.

 Se Raskolnikov tivesse exercitado sua razão antes de tomar uma decisão tão drástica, a história poderia ter sido diferente. Como líder, a sua capacidade de pensar com clareza e tomar decisões embasadas pode ser o fator que diferencia seu sucesso.

Que o exercício da razão possa delimitar a ficção como o império do drama para que no palco da realidade a vida siga em inteligente equilíbrio.

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Sheila Couto

Psicóloga, pedagoga e Chief Happiness Officer (CHO). Com 27 anos de experiência, sou palestrante, instrutora e mentora, ajudando pessoas e organizações a desenvolverem suas habilidades, expandirem sua visão e conquistarem resultados sustentáveis.

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